“Lembrai, lembrai, o cinco de novembro
A pólvora, a traição e a conspiração;
Não conheço nenhuma razão para que a traição da pólvora;
Deva ser esquecida algum dia.”

No dia 5 de novembro de 1605, o parlamento inglês deveria ir pelos ares. O plano era explodir trinta e seis barris de pólvora, armazenados no porão do Palácio de Westminster, a Câmara dos Lordes, durante a cerimônia de abertura do parlamento. O próprio rei Jaime I da Inglaterra daria o discurso inicial da sessão e, se tudo desse certo, seria explodido junto com os demais. Seria talvez a maior ruptura institucional da história até então. Chega a ser difícil imaginar o que poderia ter acontecido se tivesse dado certo. O plano, no entanto, foi descoberto antes de sua execução. Seus planejadores, dos quais o mais conhecido se tornou Guy Fawkes, foram torturados, julgados, esquartejados e seus restos mortais foram espalhados por toda a Inglaterra como mensagem para outros possíveis conspiradores.

O motivo da Conspiração da Pólvora era a retaliação contra a proibição do catolicismo na Inglaterra. Mas o motivo é o de menos. A mensagem foi passada. Nenhum povo deveria temer o seu governo. Todo governo deveria temer o seu povo. A máscara de Guy Fawkes entrou no imaginário popular através dos quadrinhos de Alan Moore e do filme inspirado em sua obra, V de Vingança. O símbolo foi apropriado também pelo grupo de hacktivismo Anonymous, que realizou diversos ataques a instituições governamentais com o objetivo de promover a liberdade na internet e a liberdade de expressão. Na mesma época, no Oriente Médio, acontecia a Primavera Árabe, uma onda revolucionária de manifestações e de resistência civil contra tentativas de repressão e censura na internet por parte dos Estados. Mais uma vez, Guy Fawkes estava lá.

A mesma resistência contra a opressão e controle governamentais acabou naturalmente se espraiando para outras áreas, como a condução monetária. O Bitcoin foi a primeira criptomoeda descentralizada, que permite transações financeiras sem intermediários, mas verificada por todos os usuários da rede, que são gravados em um banco de dados distribuídos, chamado de blockchain. Não há uma entidade central administradora, como os Bancos Centrais, o que inviabiliza a manipulação governamental em seu valor, ou na indução de inflação com a produção de mais dinheiro. Curiosamente, a criptomoeda começou a ganhar tração após a crise do subprime nos Estados Unidos, em que diversos bancos emitiram concessão de créditos hipotecários que jamais teriam condições de serem pagos. Quando o primeiro dominó caiu, os governos entraram em ação para salvar os amigos do rei que haviam “feito besteira”. No entanto, a falta de credibilidade do sistema bancário tradicional impulsionou os modelos descentralizados oferecidos pelas criptomoedas. A fagulha já estava acesa.

As coisas demoram muito a acontecer, até o momento em que elas acontecem em um piscar de olhos. Demorou uma década para a maturação de criptomoedas, até as bandeiras Visa e Mastercard resolverem incorporar elas em seus meios de pagamento. Empresas diversificam seus caixas, como a Tesla, que anunciou em 2021 a compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoins, com fins de “proteção monetária”. Outros negócios estão aderindo, por exemplo, ao blockchain como forma de controlar toda a sua cadeia produtiva e expor ela ao seu consumidor de forma absolutamente transparente. Por falar em transparência, a internet possibilitou que pessoas tivessem voz e fossem ouvidas. Diversas marcas também aproveitaram vácuos governamentais para tratar de assuntos importantes para a sociedade. Nunca o tema ESG esteve tão em voga. Demoraram séculos desde o dia 5 de novembro de 1605 até hoje. De lá pra cá, muita coisa mudou, tecnologias surgiram, hábitos mudaram, negócios evoluíram e a mensagem permaneceu. Que mensagem a sua marca quer passar? Que revolução sua marca irá fazer?

Guilherme Bueno

Gerente de Estratégia

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