Foram 46 anos de espera, mas os moradores de Denver finalmente podem gritar “NBA Champions”! A série melhor de 7 jogos foi decidida já no quinto embate contra o Miami Heat. Um dos grandes responsáveis por isso foi Nikola Jokic. O já duas vezes MVP (most valuable player, ou jogador mais valioso da temporada) destruiu nos playoffs do melhor basquete do mundo. E ele destruiu marcas impressionantes:

– foi o 1º jogador na história a liderar os playoffs em pontos, rebotes e assistências;

– foi o 1º a fazer mais de 500 pontos, 250 rebotes e 150 assistências em uma só pós-temporada;

– cravou 10 triplos-duplos nos playoffs de 2023, o maior número em uma única pós-temporada na história;

– foi o único jogador a ter feito um jogo de 30 pontos, 20 rebotes e 10 assistências nas Finais;

– se tornou o quarto jogador na história a vencer os dois primeiros MVPs de uma franquia e o seu primeiro MVP das Finais, juntando-se a, apenas, LeBron James, Michael Jordan e Kareem Abdul-Jabbar;

– foi o 1º jogador na história a ter sido escolhido no draft fora do top 15 e ser eleito MVP das Finais e MVP da temporada regular. 

Lendo todos esses recordes, você deve pensar que ele é uma besta enjaulada, maníaco compulsivo por treinos, que está acordado de madrugada sozinho em sua quadra particular lapidando seus jump-shots e não pensa em nada além de basquete 24 horas por dia, sedento de raiva, só pensando na taça. Caso você não saiba quem é Jokic, também apelidado de Joker, ele é um sérvio desengonçado, lento, nada atlético, que mora em uma fazenda e é maluco por cavalos. Esse cara destruiu nos playoffs do melhor basquete do mundo e é um dos jogadores mais dominantes do universo.

 

Alguns adjetivos de nosso MVP

Durante a comemoração da conquista das Finais, enquanto todos passavam a taça de um lado para o outro, ele estava no fundo do palco com sua esposa, sua filha e seus irmãos. O próprio troféu de MVP das Finais ficou esquecido lá na frente do cenário. Seu técnico, que deve ter ficado confuso com a situação, pegou o troféu para si para depois entregá-lo a Jokic. Assim que terminou o jogo, Joker não esboçou emoção. Ele simplesmente meteu que “o trabalho está feito. Podemos voltar para casa agora”. Quando ficou sabendo que o desfile da vitória no centro de Denver seria três dias depois da partida final, ficou ansioso e disse que precisava estar em casa nessa data. O maior jogador da NBA só queria fazer o seu trabalho e ir para o seu lar, ter seu momento de lazer. Ele está errado?

 

 

“Pô, chefe, dá pra ficar não”

Se isso lhe causa estranheza, fique tranquilo. É estranho mesmo. Sempre que pensamos em basquete, as primeiras pessoas que vêm à nossa cabeça são Michael Jordan, Kobe Bryant e LeBron James, pessoas que não foram serial killers por um detalhe, pois concentraram toda a sua obsessão e sua vida em serem os melhores possíveis no esporte. A série da Netflix “The Last Dance” mostra toda a personalidade impetuosa de Jordan em busca de seus seis títulos de NBA e o nível de exigência e cobrança que ele colocava em cada um de seus colegas de time. No documentário “The Redeem Team”, também na plataforma do tudum, colegas de time da seleção americana comentam sobre a dedicação profissional absurda de Kobe Bryant, que acordava de madrugada para treinar, enquanto seus companheiros saíam para a farra. Já LeBron é um membro ativo do Instagram, mostrando a rotina extensa de exercícios em sua jornada para se tornar o maior de todos.

Hoje, quando falamos de basquete, um dos grandes nomes é Nikola Jokic, um cara que com toda a certeza também treina muito duro durante as horas de trabalho do time, mas depois só quer ir para casa dar comida para os cavalos e ver um filme com a patroa. Em suas próprias palavras: “Basquete não é a coisa principal da minha vida, é apenas algo em que eu sou bom”. Não irei julgar.

 

Greatness

O ponto que quero levantar é que todas as pessoas que querem chegar até o topo precisam renunciar a muitas coisas. Esse sempre foi o caminho descrito pelos gurus da produtividade. “Trabalhe enquanto eles dormem.” “Acorde às 5 horas da manhã e comece a produzir antes de todos.” A cultura do trabalho obcecado por treinos da NBA ganhou até um nome: Mamba Mentality, em homenagem a toda a dedicação e horas de trabalho intensas colocadas pelo grande Kobe Bryant. Mas será que não existe um caminho mais equilibrado para ser o melhor no que se propõe a fazer? Não há dúvidas de que existem jogadores que treinam mais que Jokic na NBA, e diria que quase todos são mais obcecados por conquistar a taça que ele. Mas será que não há valor em chegar no seu trabalho, dar o seu melhor sempre e depois ter uma vida normal na qual você pode fazer o que quiser? “O trabalho está feito. Podemos voltar para casa agora”. Talvez o maior ensinamento de Nikola Jokic seja que ter uma vida equilibrada pode ser tão importante quanto o treinamento exaustivo e obsessivo.

Para finalizar este texto, gostaria de deixar vocês com a antológica entrega do prêmio de MVP da temporada de 2021/22 para Nikola Jokic, diretamente de um estábulo na Sérvia junto a seus amigos e família, bem diferente dos discursos emocionados dos jogadores em frente ao público. Puro suco de carisma.

Guilherme Bueno

Gerente de Estratégia

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