Disponível no serviço de streaming Netflix, “Fyre Festival” é um documentário, dirigido por Chris Smith, que narra a história dos bastidores da organização de um luxuoso festival que aconteceria no ano de 2017, nas ilhas das Bahamas. O evento tinha tudo para ser umas das melhores experiências na vida daqueles que acreditaram e embarcaram nas mentiras lançadas pela produção do festival.

Anunciado inicialmente como um app para contratação de serviços de famosos, tornou-se o pesadelo de muitos, principalmente para Billy McFarland, um empresário promissor que usufrui do seu poder de liderança e convicção a fim de vender suas ideias mais loucas para um público com um poder monetário considerável. O público em questão nem percebeu a enrascada em que estava se metendo, até o momento em que chegou no primeiro dia do festival e percebeu que tudo não passava de uma fraude.

O empresário era meticuloso em suas ações, e nem mesmo os seus parceiros de trabalho (alguns estavam ao seu lado há tempo) perceberam o que estava sendo tramado. A confiança era grande, Billy era enaltecido por todos, afinal de contas, quem suspeitaria de alguém que possuía muitos contatos poderosos para investimento no projeto? Alguém que se expressava muito bem e tratava a todos como se fossem de sua família? Alguém que possuía uma mente poderosa para as melhores ideias, ou para as piores? 

“Mentimos para o público. Não foi fraude; eu chamaria de propaganda enganosa”, comenta um dos integrantes da equipe em entrevista para a produção do documentário.

A falta de transparência nas informações geridas ao público, em conjunto com ações de não responder aos usuários nas redes sociais, demonstram o que não deve-se fazer ao administrar perfis nas plataformas digitais, num momento de gerenciamento de crise, ao excluir mensagens e não dar a mínima atenção àqueles que buscavam entender como o sonho vendido em forma de propaganda aconteceria. Tudo isso resultou numa violação na confiança de muitos, ao publicarem promessas irreais, se tornando um desastre viral e uma enorme piada.

Qualquer pessoa que possui algum conhecimento mínimo sobre produção de eventos sabe bem das dificuldades de organizar um nas melhores condições possíveis. E quem dirá realizar um em uma ilha com estrutura precária, com acesso restrito, com comunicação limitada e, principalmente, com sonhos roubados.

As promessas eram muitas, como cabanas exclusivas superluxuosas, atividades a serem realizadas no evento, possibilidade de usufruir de experiências culinárias das melhores que se poderia imaginar. Hospedagem em iates incríveis, artistas de grande renome no cenário musical, passeios de Jet Ski, celebridades dividindo a mesma ilha que você, tudo pago por um sistema de pulseiras de crédito com transmissão Wi-Fi, sendo que nem sinal para isso havia na ilha.

O evento teve como estratégia principal de divulgação as redes sociais. O documentário ilustra muito bem o poder que elas possuem, apresentando como é possível acabar com uma reputação num piscar de olhos, quando não há compreensão das ferramentas que possui para uso de sua comunicação.

Bem sabe-se o impacto que pode-se alcançar aliando-se aos perfis de influenciadores famosos. E uma das ações de comunicação do festival foi justamente com esse pensar, usando uma estratégia de rápido alcance ao público que buscavam impactar. E após diferentes influenciadores terem postado um único quadrado laranja em seus perfis ao mesmo tempo, ocorreu a venda dos ingressos em menos de 24h do lançamento oficial do evento nos ambientes virtuais.

Com isso, venderam a ideia de que tudo foi comunicado de forma orgânica, ou seja, sem investimento em mídia. Isso foi um problema para as autoridades, pois é obrigatório informar quando trabalha-se com parcerias de divulgação com investimento. O resultado disso? Tornaram os influenciadores em cúmplices das mentiras, além de processos gerados e a perda da credibilidade com os fãs.

E não somente os erros envolvendo a organização em questão de escassez de comida, falta de água e luz, lugar onde dormir, a produção comete o erro de entrar na cultura do povo local, usar dos moradores como peões de obra para o evento, prometendo trabalho e iludindo o povo carente, para no final, quando tudo deu errado, entrarem em seus aviões sem olhar para trás e nem mesmo pagar qualquer centavo para os moradores da ilha. Um ato extremamente desumano, triste e injusto. 

Com o Fyre Festival, algumas lições ficam perceptíveis, como a falta de organização e planejamento, a ausência de transparência com o público, demonstrando não haver preparo para gerenciar uma crise nas redes sociais, e a sustentação de ideias irreais por meio de muita propaganda enganosa.

POR QUE É DESCOMMODITY-SE?
Porque mostra a importância de valorizar o nosso público. Que de nada adianta possuir uma boa estratégia se não houver planejamento. E não somente planejamento, mas ações bem definidas pensadas no retorno que aquilo causará. Mostra que as redes sociais possuem um poder incrível de impacto imediato e possibilitam a venda de sonhos, e que se não souber usá-las, ou não compreender como gerar conversas relevantes para os usuários que ali estão conectados, de nada adianta possuir influências. Gera questionamento sobre transparência, sobre relevância, identidade e posicionamento de marca, sobre relacionamento e, principalmente, sobre como ser humano em nossas ações e comunicação.

Cleiton Pires

Social Media

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