Algumas marcas são capazes de criar tamanha conexão com as pessoas que se tornam quase uma religião. Por exemplo, os hypados celulares da maçã ou o sagrado néctar escuro da noz de cola.
Outro grande exemplo surgiu em 1971, quando dois professores e um escritor, que tinham no café, além de combustível, a sua paixão, transformaram sua apreciação pela bebida em negócio, abrindo no mercado público de Seattle uma cafeteria de alta qualidade, que oferecia os melhores grãos importados e os torrava para o público na hora.
Os amigos, eruditos e muito provavelmente inspirados por um insight de Gordon Bowker (o escritor do grupo), deram à empresa o nome de Starbucks, uma homenagem ao personagem Starbuck, primeiro-imediato do capitão Ahab no clássico da literatura Moby Dick.
A temática dos mares também está presente na logotipia da empresa. Inspirado em ilustrações nórdicas, o logo da empresa representa uma sereia de duas caudas, ser mítico das águas. A ideia do desenho veio do intuito de romantizar a importação marítima dos cafés exóticos que a empresa vendia.
Depois de alguns anos, com a cafeteria já conseguindo um sucesso relevante e contando com 4 filiais em Seattle, um certo fornecedor de máquinas visitou uma das unidades, provou um saboroso café importado da Sumatra e se apaixonou pelo negócio.
Esse homem era Howard Schultz, hoje reconhecido como um dos maiores profissionais do marketing e da comunicação. Ele fez uma proposta de sociedade aos fundadores, que culminou na venda total da marca para Schultz e, assim, começou o processo de expansão que tornou a Starbucks o colosso que conhecemos hoje.
Ao visitar cafeterias da Itália em 1983, Howard se apaixonou pela cultura italiana que utilizava o cafezinho como um momento de conexão, troca e felicidade entre amigos. Dessa forma, decidiu embutir essa mentalidade em suas próprias cafeterias e, assim, surgia o compromisso com a experiência do consumidor para a Starbucks, prática que tantas marcas buscam e defendem – e que, não por acaso, a Starbucks domina.
Chegando aos dias de hoje, a marca já conta com 30.000 filiais ao redor do planeta e uma legião de fiéis.
Com 20 milhões de usuários em seu programa de parcerias, o plano permite que os amantes de seus cafés tenham acesso a benefícios, brindes e promoções.
Para comparação e curiosidade, dentro do programa de parcerias, a Starbucks tem o dobro de “correntistas” que o Banco Inter (12 milhões) e 10 vezes o número do Banrisul (2,7 milhões).
O programa também permite que os usuários abram uma conta de créditos no app para uma compra posterior. Os fiéis amam tanto a Starbucks que estão dispostos a investir seu suado dinheiro na promessa de consumo de um quentinho café futuro.
Os fãs, ao utilizarem esse recurso, permitem que a marca tenha acesso a uma gigantesca e invejável linha de crédito sem juros (que corresponde a 4% do passivo total da empresa), possibilitando o reinvestimento na própria Starbucks e a expansão do negócio.
Traduzindo em valores totais: a Starbucks tem em caixa US$ 1,2 bilhão, isto é, 5x o que a fintech PicPay tem de caixa disponível (US$ 0,23 bilhão).
Como a Starbucks consegue transformar simples consumidores em uma legião de fiéis? Martin Lindstrom, o autor do livro “A lógica do consumo”, explica: “As zonas do cérebro ativadas nas pessoas religiosas são as mesmas ativadas no cérebro dos consumidores quando interagem com suas marcas preferidas: apelo aos sentidos, histórias envolventes, visão forte e rituais são alguns elementos em comum entre as duas partes. Todas as marcas de sucesso são desenvolvidas a partir desses elementos. Para a Starbucks, esses elementos são a história da sua trajetória original e apaixonada, o conceito italiano, seu propósito e seus cafés saborosos.”
A sua marca está preparada para transformar consumidores em fiéis?