A forma como enxergamos o mundo mudou.
Já não é mais tão colorida, as crises econômicas vêm e vão, o xarope da infância com gostinho de framboesa virou um tarja preta contra a ansiedade, a nossa profissão parece não ter mais tanta graça assim e as luzes da cidade nem chegam a brilhar como antes.
Mas será que esses momentos não poderiam ser mais propensos a inovações e mudanças? O famoso terreno fértil para a mente criativa?
Um novo olhar em momentos difíceis ou decepcionantes pode salvar não só a sua vida pessoal e carreira como também o seu negócio. O arquiteto Philippe Starck disse uma vez que as crises permitem que as pessoas repensem as suas visões e forcem a sua criatividade em prol do pensar diferente.
No livro “Oportunidades Disfarçadas”, o publicitário Carlos Domingos destacou uma história que me chamou atenção. A perspectiva com que um empreendedor resolveu ver a sua situação, enxergando além da sua dificuldade e encontrando uma solução criativa, foi decisiva para a sua empresa.
No começo dos anos 1960, nos Estados Unidos, o sorvete dinamarquês era considerado o melhor do mundo. Para Reuben Mattus e sua família, esse era um grande problema, afinal, havia mais de 30 anos que eles fabricavam um dos melhores sorvetes de Nova York, com creme fresco, pedaços de fruta e ingredientes totalmente naturais.
O resultado de tanta excelência não perdia nada para os tão queridos sorvetes importados. Porém, quando sabiam da procedência americana, os clientes reagiam com decepcionadas observações como: “Sério? Pensei que era dinamarquês” ou “Ah… Que pena”.
Mas isso não foi motivo para Reuben ficar desanimado. Empolgado, ele teve a ideia de criar um nome que soasse escandinavo, correu para uma biblioteca para conhecer melhor o idioma dinamarquês e, no fim de sua pesquisa, chegou a uma palavra inventada e sem significado algum, mas que parecia funcionar. Foi assim que, em 1961, surgiu a grife de sorvetes finos Häagen–Dazs.
São infinitas as possibilidades que podem surgir de momentos ruins na nossa vida, e o nosso ponto de vista pode mudar tudo, dependendo de como escolhemos enfrentar cada pequena decepção. O brilho da Häagen–Dazs veio do desapontamento infundado de clientes e de um proprietário que teve a capacidade de enxergar na crise uma oportunidade disfarçada.
Há um ano, em uma aula de Escrita Criativa na FAMECOS, o professor nos desafiou a escrever um pequeno manual sobre qualquer coisa. Lembrando de um momento difícil da minha vida, tive uma ideia do que escreveria, mas dessa vez com uma visão totalmente diferente sobre uma antiga situação. Para os que tiverem interesse, deixo logo abaixo; mas, para os que ficam por aqui, lembrem-se que o nosso olhar pode mudar tudo.
MANUAL DE COMO MORRER
Não pense que é tão fácil quanto parece! Se você realmente tem interesse em morrer, prepare-se para lidar com o inesperado. Você pode morrer de muitas formas. Se puder escolher o tipo de drama, pense se vai ser uma morte trágica do tipo que sai no jornal, se vai ser assustadora do tipo que vira filme de terror, talvez algo mais para nível documentário, se vai ser triste e profundo como um suicídio ou misterioso a ponto de não saberem como aconteceu. Comece se alimentando mal ou não coma nada e morra de fome, depois beba e fume todos os dias (afinal, você vai morrer de qualquer jeito), se apaixone sem medo de se machucar e “morra de amores”, quem sabe, atravesse a rua sem olhar para os lados, assim é chato e rápido. Você também pode escolher correr de mochila bem quando for passar por um grupo de amigos reunidos e morrer de vergonha ou, se for um admirador dos clássicos, apenas reaja a um assalto.
De qualquer maneira, faça do seu jeito, seja criativo, afinal, todos vamos morrer um dia. Se pudermos escolher como, melhor!