No final dos anos 90, o beisebol se tornou um esporte de milionários. A inflação crescente nos salários dos grandes astros do esporte fez com que os times mais pobres das grandes ligas não pudessem competir em alto nível com as equipes endinheiradas da MLB. No entanto, o gerente geral do Oakland Athletics, um dos times mais pobres do esporte, insistia em contrariar essa lógica. Enquanto a folha salarial do seu time despencava ano após ano, ele sempre encontrava soluções para que seu time não apenas se mantivesse no jogo, como desafiasse a hegemonia de times com orçamentos estratosféricos e recheado de estrelas. Billy Beane era o homem que contrariava a lógica. Um herege dentro do santuário de um esporte conservador, baseado em análises puramente especulativas realizada por olheiros que ignoravam qualquer jogador minimamente fora dos padrões criados por eles próprios. Como ele fez isso? Explorando as estatísticas.
Bem-vindo ao show de horrores
Os times menores têm uma vantagem em relação aos times ricos: a imunidade à ridicularização pública. Nada é esperado deles. Isso possibilita que eles tenham uma margem muito maior de manobra do que os grandes times da liga, que teriam fãs enlouquecidos e uma mídia querendo suas cabeças caso fizessem qualquer atitude que contrariasse a lógica. A lógica? Compre as grandes estrelas e vença campeonatos. Não há vergonha em comprar o próprio sucesso às custas dos pequenos times que revelavam jogadores talentosos. O resto ficava à disposição dos clubes menores para suas campanhas pífias na temporada regular. Porém, em meados dos anos 90, um time ousou desafiar a lógica. O Oakland Athletics, ou A’s, como também são conhecidos, começaram a recrutar diversos atletas estranhos, que estavam absolutamente fora do radar de qualquer equipe. A maioria dos contratados possuía uma característica que faziam os olheiros passassem longe deles, seja um estilo de lançar a bola estranho, ou uma maneira de rebater engraçada, ou até mesmo uma característica física inadequada para a prática esportiva em alto nível. O que todos eles tinham em comum? Estatísticas fenomenais em algum atributo chave para ser bem sucedido no jogo. Era um time lamentável de se ver, com uma folha salarial muito abaixo da média, mas de uma competência estrondosa. A funda de Davi contra os Golias da liga tinha acabado de ganhar mira a laser.
Foco em dados, não em superstições.
As estatísticas permitiam ultrapassar os mais variados tipos de preconceitos derivados das observações dos olheiros. As organizações tinham dificuldade em entender que um certo jogador poderia ser altamente talentoso, mesmo tendo as características diferentes do convencional. Os A’s ignoravam essa parte e iam diretamente aonde interessava: o que esse cara pode me oferecer estatisticamente que aumentará minhas chances de vencer no jogo. Foram anos fazendo temporadas vencedoras utilizando a estratégia de se basear sempre em dados nas suas contratações, nunca em crenças. Em 2002, a equipe conseguiu uma das maiores façanhas da história do beisebol, ainda hoje nunca alcançada, de vencer 20 jogos consecutivos.
Moneyball nos negócios
O cenário enfrentado por Billy Beane e os A’s não é tão diferente do cenário empresarial atual. Existem inúmeros gestores de pequenos negócios que se entregam a uma competição injusta com marcas que possuem um poder de investimento muitíssimo maior que o seu. Eles são guiados por suas crenças e superstições. Quando questionados, a resposta está na ponta da língua: “sempre foi feito assim”. Em uma competição desproporcional, a coisa mais irracional possível é continuar fazendo o que não está dando certo. É preciso possuir uma certa falta de orgulho para fazer a coisa direito. Admitir que está em desvantagem. Agarre isso como uma força. Se desfaça de suas crenças e troque ela por dados, que podem ser utilizados de forma estratégica para gerar uma vantagem competitiva real para seu negócio. Diversas PMEs estão crescendo em um nível acelerado, deixando o lado de lado as superstições de seus segmentos e utilizando big data para tomarem a dianteira no mercado. Lembre-se que em determinado momento Blockbuster era um tubarão e o Netflix um peixe pequeno. Veja onde eles estão hoje em dia.
Sobre o livro
Pra quem é amante de esportes, o livro é um prato cheio. Mesmo quem não conhece as regras do beisebol pode ler tranquilo, isso não irá influenciar significativamente na experiência de leitura. “Moneyball: o homem que mudou o jogo” foi escrito por Michael Lewis, escritor best-seller do New York Times. O livro posteriormente também foi adaptado em um filme de grande sucesso, estrelando Brad Pitt e Jonah Hill, que chegou inclusive a ser indicado ao Oscar, em 2012. O livro contém vários ensinamentos sobre estratégia, e para leitores com mais atentos, também contém lições sobre negócios. A principal mensagem do livro é na verdade uma provocação. Desconfie do óbvio, vá contra o que todos fazem e você pode encontrar um oceano azul inexplorado para que você possa crescer.