Segundo Schopenhauer: “O homem é o único animal que causa dor aos outros com palavras”. De fato, as palavras têm um poder enorme de despertar sensações e sentimentos em outros homo sapiens. Elas transmitem ideias. Promovem união. Despertam fúria. Ajudam a roubar os dados da sua conta bancária. Ou a mandar Pix para vigaristas. Palavras são como facas: podemos usar para descascar frutas, talhar madeira ou matar pessoas, dependendo da preferência do usuário. Podem ser usadas para aliviar a dor ou trazer à tona o pior dos remorsos. Bem, acho que você já entendeu, né?
E quando palavras são usadas para passar a perna em outras pessoas? Com a onipresença da internet em toda a população, ficou ainda mais fácil entrar em contato com pessoas e aplicar golpes. De fato, 58% dos brasileiros sofreram crimes cibernéticos, aponta estudo da Norton, em 2022. A estimativa é que 32 bilhões de reais foram perdidos para resolver problemas gerados pelo cibercrimes somente em 2021. Esse número tende a aumentar significativamente. São anúncios maravilhosos levando para páginas falsas, pessoas entrando em contato com você no WhatsApp com a oferta de emprego dos sonhos, suportes bancários pedindo para você fazer coisas estranhas ou pedindo a senha do cartão pelo telefone. Isso tudo é chamado de “engenharia social”, que são manipulações psicológicas para conseguir informações sensíveis da vítima e, em última instância, monetizar em cima disso.
Isso ligou o alerta em diversas marcas que estão sendo utilizadas pelos fraudadores para enganar seus consumidores. As que mais investem em comunicação preventiva, por motivos óbvios, são os bancos. Com um tom educativo, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco lançaram campanhas dando exemplos de fraudes e como evitá-las. A Apple, embora não fale sobre golpes, reforça que seus smartphones não vazam seus dados. Por anos, os profissionais de marketing ouviram que “dados são o novo petróleo”. Já podemos atualizar para “dados são a nova arma apontada à sua cabeça” quando os bandidos os têm à disposição. E, nesse caso, eles vão atirar contra você.
Ser um bandido hoje em dia tem muito menos a ver com colocar uma meia-calça na cabeça, pegar sua pistola de brinquedo e ir atrás de velhinhas com bolsas. Os bandidos modernos dominam soft skills. Inclusive, suas abordagens tem mais semelhança com profissões como psicólogos ou atores do que com alguém que precisa utilizar força bruta para conseguir algo amedrontando sua vítima. Engenharia social é algo sutil, quase uma dança. Você fala algo, a pessoa do outro lado replica. O que ela fala faz sentido. A conversa continua. Cada um dos seus botões vai sendo ativado enquanto a valsa continua. Um pra lá, dois pra cá. Aos poucos, você vai sendo conduzido por uma pessoa que você quase vê como amiga. Para finalizar a dança, ela pede para que você se atire para trás e confie que ela vai agarrar você, em uma pose final. Você se atira. E se esborracha no chão. A pessoa foi embora com tudo o que você tinha e você se sente humilhado.
Schopenhauer parece ter dito a frase inicial para os tempos atuais. Cada vez mais, palavras são usadas como armas pelos bandidos modernos para causar danos às suas vítimas. Sempre que seu subconsciente acender a luz vermelha em uma ligação, uma mensagem ou um site querendo seus dados, desconfie. Ele geralmente está certo.