Hora de dormir.
Vou assistir algo.
Quase uma hora de episódio, não vai rolar.
Tenho reunião logo cedo.
O relógio precisa despertar.
E se não despertar?
E se eu não acordar?
Vão precisar de mim e eu não vou estar lá.
Preciso ficar ligada.
Abro a newsletter.
Preciso estar atualizada.
Não tenho tempo.
Preciso ler mais.
Nossa, a Zara já entrou em liquidação.
Preciso estudar mais.
Olha, tem curso em promoção.
11 cadeiras na faculdade.
Ainda não é o suficiente.
Será que estou dando o meu melhor?
Preciso me formar logo.
Anúncio da CVC.
Eles não estavam falindo?
Queria fazer uma viagem.
Imagina se o meu avião cai.
Foi na terapia que eu descobri que tinha o tão querido TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e, para aqueles que não sabem como funciona a cabeça de um ansioso, eu diria que é quase assim, só que pior.
O medo de não ser o suficiente, de não estar atualizado, de ficar para trás, de não dar conta de tudo ou principalmente de estar perdendo tempo ou ficando fora de algo importante ocupa grande parte de nossa mente.
E por mais chocante que uma cabeça que pense assim possa parecer, tudo isso faz parte do novo mundo em que vivemos, o mundo em que vídeos de 30 segundos já não são mais considerados tão curtos assim, ou que qualquer informação precisa ser passada no mínimo de tempo possível para conseguir prender o interesse das pessoas ou simplesmente conseguir ocupar um pequeno espaço na mente atormentada delas.
A famosa era da economia da atenção, ou o chamado FOMO (“Fear of Missing Out”, ou “medo de ficar de fora”), só nos prova como vai ser cada vez mais difícil ganhar uma audiência que está cada vez mais ansiosa, distraída e dispersa.
“Estima-se que os usuários são expostos, em média, à exibição de 6 a 10 mil anúncios por dia, o que leva a uma fadiga publicitária. Esse fenômeno faz com que as campanhas sejam simplesmente ignoradas ou rejeitadas pelos consumidores, levando-os ao esquecimento da mensagem em poucos segundos.”
– Forbes: The Attention Economy: Standing Out Among The Noise
E é justamente isso que me faz questionar como marcas e empresas que são geridas por pessoas, que passam pelas mesmas inquietações que nós, estão lidando com esse ritmo de mercado. Afinal, você precisa estar em toda parte, se adaptar a todas as redes, acompanhar cada novidade e meme para não perder o timing certo, estar atento à reputação da sua empresa e a polêmicas que possam surgir. Não se esqueça que também precisa inovar, fazer pesquisas, estar ligado às novas tendências e, é claro, conseguir ocupar um espaço na mente de um consumidor que pula todos os seus comerciais (se é que você sequer tem um).
Se a sua marca está ansiosa, ela corre o risco de não ter objetivos claros em sua comunicação, o que pode levar à falta de resultados.
As variáveis são muitas, afinal, só por estarmos vivos estamos correndo riscos. Até mesmo quando fazemos pequenas escolhas, estamos renunciando a algo e, no mundo das marcas, isso não é diferente.
Quando a sua marca tem a estratégia e o planejamento certos, com um plano que não abraça tudo, mas mostra para a sua empresa o que é mais importante naquele momento, você sabe qual caminho seguir e com o que deve se preocupar agora, sem prejudicar o seu futuro. Alinhando diagnóstico, estratégia e táticas, sua marca chegará ao seu melhor desempenho dentro de suas possibilidades, fazendo escolhas que têm sentido e são produtivas a curto e longo prazo.
“A essência da estratégia é escolher o que não fazer.”
– Michael Porter
Em minha vida pessoal, mesmo ainda lidando com a minha ansiedade, paro, penso e busco fazer escolhas que me levem a viver uma vida plena. E, é claro, como disse Greg McKeown em seu livro “Essencialismo, a disciplinada busca por menos”: “Se deixarmos nosso instinto tomar conta, seremos engolidos por inteiro. Vamos nos desgastar cedo demais. Precisamos ser tão estratégicos conosco como somos com a carreira e a empresa. Temos que controlar nosso ritmo, cuidar da saúde e obter energia para explorar, prosperar e realizar”.
Ah! Quase que eu me esqueço.
Agora sim.
Hora de dormir.