No início do meu primeiro semestre, os professores enfatizavam que, ao longo do curso, deveríamos desenvolver uma apreciação pelo trabalho em grupo, algo obviamente nem sempre popular entre todos. Afinal, na área de publicidade e propaganda, a colaboração é essencial. Nunca estamos isolados, nunca temos total controle e, invariavelmente, somos apenas uma peça dentro do imenso mecanismo exigido pelo mercado publicitário.
Quando eu era criança, uma das minhas irmãs me levava a pé para a escola todos os dias. O trajeto era longo, e lembro-me de cada esquina que atravessávamos, percorrendo uma praça inteira e caminhando por longas quadras até finalmente chegarmos lá. O ponto crucial é que, durante esse percurso, frequentemente brigávamos e nos desentendíamos por diversos motivos, o que tornava essa jornada até a escola bastante estressante. Vale ressaltar que minha irmã assumia esse papel porque, naquele momento, ninguém mais poderia me levar. Sua paciência, influenciada levemente pela pressão de minha mãe, foi fundamental. Se ela não tivesse toda essa paciência, talvez eu não teria frequentado aquela escola que, apesar da distância, deixou marcas tão profundas e permanece como uma das minhas maiores lembranças até hoje.
Outro dia, a caminho da faculdade, durante uma conversa com o tio da minha van, ele compartilhou uma perspectiva interessante sobre o seu trabalho. Ele mencionou como, ao longo de sua jornada, escuta inúmeras histórias, testemunha choros e desesperos relacionados a provas e trabalhos, além de milhares de desabafos dos alunos que todos os dias dedicam longas horas do seu dia até a universidade. Enquanto ele me contava isso, eu só conseguia lembrar dos diversos momentos em que, voltando para casa, conversava com as minhas amigas sobre os nossos desafios nessa fase da vida.
Sem nem perceber, dentro da própria van, construímos amizades inesperadas. Cada um de nós representando cursos totalmente distintos, indo desde a UFRGS até a PUC, passando pela FMP e UFCSPA. De Porto Alegre até Novo Hamburgo, compartilhamos não apenas medos e inseguranças, mas também risadas e momentos de acolhimento mútuo.
Há 2 anos, quando eu cheguei na SPR, sem nenhuma experiência e com muita vontade de aprender, a Lu, minha colega da Produção, me recebeu e me mostrou uma parte da publicidade que eu não tinha ideia da dimensão e me deu conselhos que até hoje guardo comigo. Agora, trabalhando no Planejamento, vejo mais do que nunca a importância do trabalho em equipe e sou cada vez mais grata pelo privilégio de ter colegas que me apoiam tanto e dedicam muito do seu tempo para me orientar.
Na faculdade, muitos colegas também se tornaram amigos que, na hora do aperto, uma mão segura na outra, o milagre é operado e o trabalho é entregue dentro do prazo!
O que quero dizer aqui é que talvez sem a paciência da minha irmã, hoje eu não teria lembranças que eu acredito que me fazem ser quem sou. Sem as longas conversas com o pessoal da van, talvez essa aventura de estudar “longe de casa” não fosse tão valiosa. Sem a parceria da Lu e sem o apoio dos meus colegas do Planejamento, eu não teria dado alguns passos no meu desenvolvimento como profissional. Sem a força de alguns colegas da faculdade, eu não teria conseguido sozinha concluir um semestre de 12 cadeiras. E, acredite em mim, essa lista só aumenta, então talvez os meus professores não estivessem tão certos assim: a publicidade não é um grande trabalho em grupo. A vida por si é um grande trabalho em grupo. E eu sou grata por isso.